O que a literatura tem a ver com o combate à fome? Como a Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) pode estimular uma maior visibilidade da literatura indígena? Que tal conhecer a poesia de Suzana Pagot? Tudo isso e muito mais no Folheto nº5 da Voz da Literatura.
LITERATURA E FOME
Rodolfo Teófilo, Graciliano Ramos, Carolina Maria de Jesus, são alguns dos escritores que escreveram sobre a triste realidade de quem passa fome em nosso país.
De acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PenSSAN), estima-se que cerca de 19 milhões enfrentaram a fome no Brasil em 2020, situação agravada pela pandemia de Covid-19.
O que o meio literário pode fazer para mudar essa situação?
Você conhece instituições, grupos, projetos, editoras ou eventos literários que empreendem esforços no combate à fome em nosso país?
A Voz da Literatura tem interesse em divulgar e estimular ações de combate à insegurança alimentar no Brasil.
LÍNGUAS INDÍGENAS

A Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) - DILI - é uma iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas, motivada pelo Ano Internacional das Línguas Indígenas promovida pela Unesco em 2019.
Em março de 2021, lançou-se em Paris o Grupo de Trabalho Mundial da DILI, que contou com uma representante brasileira: Altaci Kokama.
O GT do Brasil objetiva construir políticas linguísticas para as línguas indígenas brasileiras.
A DILI pretende valorizar as línguas indígenas em todos os âmbitos da cultura, da educação, da ciência, da tecnologia e da política.
Espera-se que essa década das línguas indígenas sirva para o empoderamento dos povos indígenas e a preservação da diversidade biocultural.

“(…) se fizermos um estudo comparativo da fome com as outras grandes calamidades que costumam assolar o mundo — a guerra e as pestes ou epidemias — verificaremos, mais uma vez, que a menos debatida, a menos conhecida em suas causas e efeitos, é exatamente a fome.”
Josué de Castro. (Geografia da Fome. Ed. Civilização Brasileira.)
ENCONTROS COM A NOVA LITERATURA BRASILEIRA
Na última quinta-feira, 13, a série Encontros com a Nova Literatura Brasileira Contemporânea, coluna mensal do site do Itaú Cultural, apresentou a escritora indígena Aline Rochedo Pachamana, historiadora, ilustradora, educadora e editora. Dirige o selo Pachamana Editora, formada por mulheres indígenas. Entre outros livros, publicou as obras Pachamana (2016), Guerreiras (2018) e o infanto-juvenil Taynôh (2019), disponível em guarani, xavante, português e espanhol. Seu último lançamento foi Boacé Uchô (2020).
FOLHETIM ::: LUGARES QUE ESPERAM

Suzana Pagot, natural de Caxias do Sul (RS), é doutora em literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Durante duas décadas, foi professora na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Lugares que esperam (Ed. Liddo, 2021) é seu primeiro livro de poesia.

DISTOPIAS
Há lugares que esperam
Qualquer sapato, chinelo,
Sussurro, rumor ou alvoroço
De humanidade.
Há lugares que esperam
Silenciosos e submissos
À terrosa temporalidade.
Há lugares que esperam
Resignados, suspiram
Diante da avassaladora
E iminente imutabilidade
Há lugares que esperam.
ANCESTRALIDADE
Carregar a culpa secular
paraíso destruído
Sustentar o pecado original
(Da)nação de Adão
Incorporar o mal
pragas demoníacas
Espelhar a fêmea
fôrma forjada
Sangrar servir
santo seio
ventre violado
Consumir-se
Perpetuar a peleja múltipla
Gerar insubordinado leite
Reescrever a sucessão endêmica
SOBRE FONTES E EROSÕES
XIX
Desentardecer palavras: eis o ofício
mata tornada constelação de passos
Pergaminhos guardando sóis azuis
de palimpsestos borrados.
No horizonte, o poeta acende:
as cinzas torres urbanas
e a monotonia cabisbaixa
das retinas perdidas em redes.
No humano abismo de outonos fatigados
no desalento da poesia nas vidas desbotadas
nas sucessivas cegueiras
no ceifar da morte nas colinas amaduradas
Desentardecer palavras: eis o ofício
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