por Rafael Voigt
Anna Kariênina, de Tolstoi, é talvez uma das personagens suicidas mais emblemáticas da literatura mundial.
Escritores como o português Camilo Castelo Branco, o japonês Yasunari Kawabata, a britânica VirgÃnia Woolf e o brasileiro Torquato Neto fizeram a opção pelo autocÃdio. Outros tantos literatos e intelectuais tomaram essa mesma decisão.
Atualmente, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicÃdio no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, entre 2007 e 2016, mais de 100 mil pessoas cometeram suicÃdio, de acordo com recente pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde. É sem dúvida um quadro alarmante e um gravÃssimo problema de saúde pública.
Autor do best-seller O demônio do meio-dia - uma anatomia da depressão, Andrew Solomon, em Um crime da solidão: reflexões sobre suicÃdio, recém-lançado pela Companhia das Letras, enfrenta o problema do suicÃdio com enfoque em narrativas de casos ocorridos no cÃrculo de relações do próprio autor, bem como em artigos publicados em periódicos resultantes de suas pesquisas sobre a depressão e o suicÃdio.
O volume começa com a história de Terry Kirk, amigo de Andrew Solomon. Nos tempos como universitário, um sujeito alegre, rodeado de amigos, sem qualquer lastro de tristeza, muito menos de depressão. Próximo aos 50 anos, sente-se um fracasso como professor e acadêmico, apesar de notórias evidências de que as coisas não eram bem assim.
Mesmo com acompanhamento médico e com toda a ajuda de seu companheiro de vida, Terry não vislumbrou saÃda para o seu vazio existencial. Cortou os pulsos em um lugar lindo perto de Roma e deixou a todos os conhecidos com a estranha sensação de culpa, inclusive o próprio Andrew Solomon.
O autor alerta: "Ninguém que tenha conhecido uma pessoa que se matou consegue se livrar do fardo da culpa. O suicÃdio é o fracasso de mil chances de ajuda, da capacidade coletiva de salvar aquele que morreu."
Andrew Solomon parte de histórias como a de Terry para investigar a fundo não somente as causas do suicÃdio, mas também estratégias de prevenção. O suicÃdio assistido da mãe de Solomon, o homicÃdio-suicÃdio no Massacre de Columbine (1999), a hereditariedade como causa de suicÃdio, a ontologogia do suicÃdio da escritora Virginia Woolf são temas que atravessam Um crime da solidão.
Sobre prevenção ao suicÃdio, não se pode deixar de aqui louvar o trabalho desempenhado por grupos de voluntáriosdo Centro de Valorização da Vida (CVV). Uma parte desse serviço do CVV pode ser visto na cartilha "Falando abertamente sobre o suicÃdio", produzida pelo próprio CVV: https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/falando_abertamente_sobre_suicidio.pdf