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ENTREVISTA | Cyro Leão


“Rafaela em queda” (Ed. Patuá, 2019) é o romance de estreia de Cyro Leão, que já havia se lançado no mundo literário por meio do livro Confusão (poesia) e com trabalhos publicados em antologias e periódicos literários. Resultado de mais de 10 anos de minucioso trabalho, o romance “Rafaela em queda” expõe as marcas de uma narrativa que dialoga claramente com Camus, Dostoiévski e Sartre. Cyro destaca que Kafka e Machado de Assis também estão nas entrelinhas dos estilhaços da vida de Rafaela. Encontrar essas confluências não é o que faz dessa narrativa um romance de estreia que mereça a atenção dos leitores. Os escritos da personagem Rafaela, compilados e alinhavados por um sagaz narrador, estimula o leitor a (re)construir a história de uma vida de angústias, de desventuras amorosas e familiares, componentes que são como estilhaços de um realismo contemporâneo bem ancorado na realidade brasileira. Na entrevista concedida, por e-mail, à revista {voz da literatura}, Cyro Leão conta mais de sua trajetória literária e de seu “Rafael em queda”.


{vdl} Você lançou o romance “Rafaela em queda” em 2019. Poderia nos contar um pouco de sua trajetória literária até então?

Minha trajetória é muito mais de leitor que de escritor. Antes do “Rafaela em queda” publiquei um livro de poesias (Confusão), participei de algumas antologias e tive alguns textos veiculados em cadernos literários. E sempre escrevi, desde a adolescência. Mas certamente meu vínculo com o universo dos livros é mais de leitor, admirador, amante mesmo das letras e obras que nos orientam e desorientam para uma vida muito mais rica.

A publicação se materializou na Patuá, editora capitaneada com extrema competência pelo Eduardo Lacerda, que dá um tratamento muito especial a cada livro que lança.

{vdl} “Rafaela em queda” é sua primeira experiência na escrita de um romance. Desde quando vinha trabalhando nele e de onde surgiu a ideia de concebê-lo?

Acredito que um livro é escrito durante toda vida, com cada experiência, cada aprendizado. Esse romance já teve vários formatos e propósitos até chegar ao que me pareceu ser a configuração acabada, final. Não surgiu de uma lampejo que deu luz ao resto, mas de muita burilação. Escrevo e reescrevo “Rafaela em queda” há muitos anos, talvez 10 ou mais.

{vdl} O Livro de Rafaela (talvez um título alternativo de seu romance) apresenta convergências com “A queda”, de Camus, “Memórias do subsolo”, de Dostoiévski, ou “A Náusea”, de Sartre. Sua obra dialoga com esses autores ou a narrativa de Rafaela tem outras raízes?

A percepção dessas referências foi muito feliz. Realmente há inúmeros pontos de contato com essas obras e autores, ainda que não intencionais.

Voltei a esses 3livros para responder com mais propriedade e encontrei não poucas convergências.

Listo aqui algumas: enredo inserido em um contexto mais amplo e externo; narração como relato, mas também condutora das histórias dos protogonistas; tom confessional; questionamentos físicos e metafísicos; desejo abafado e frustrado de reconhecimento alheio e pertencimento; autocondenação/autopunição; crise de consciência e vazio existencial; desordenamento de ideias e convicções; emoções em estado de transbordamento; destino como danação; fatalidade, acaso e contingência; angústia permeando a percepção da realidade; crueldade da liberdade/prisão das escolhas; ânsia do inesperado.

Além desses três importantes autores, vale citar duas presenças substanciais na minha formação e que têm alguma influência no livro: Kafka e Machado de Assis.

{vdl} A estética do “Rafaela em queda” é composta da amálgama entre fragmentação da narrativa e temáticas bem contemporâneas, relacionadas à violência, relações abusivas, drogas, a busca de sentido existencial... Rafaela seria uma síntese dessa realidade?

Somos efeito da realidade que nos cerca, então, sim, há reflexos na obra. Mas elatambém é tecida com as convicções e dúvidas que nos formam e deformam ao longo da vida, e que acabam sendo a principal fonte para a criação.

A própria fragmentação reflete os tempos que vivemos, com relações e pessoas aos pedaços.

Não diria que “Rafaela em queda” seja uma síntese da nossa realidade, mas a tentativa de expor um pedaço dela. Um estilhaço.

{vdl} Quais são seus próximos projetos literários?

Meu principal objetivo agora é promover (e vender) o “Rafaela em queda”. O desígnio de um livro é encontrar quem o leia - só então o ciclo se fecha e ele realmente se torna uma obra completa.

Tenho dois livros quase finalizados (um romance e um de poesias), mas antes quero buscar leitores para a Rafaela e suas desventuras.

* O livro "Rafaela em queda" pode ser adquirido na Amazon e no site da Ed. Patuá.

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