Trad. Rubens Figueiredo | Ed. Mundo Cristão | 2017
por Eleazar Venancio Carrias
Este pequeno livro é uma preciosidade de Tolstói. Escrito em 1879, foi recentemente traduzido por Rubens Fiqueiredo, que apresenta o tema central da obra: “Em busca de alguma resposta para o sentido da vida, Uma confissão se detém na questão da fé: como ela se forma, como ela se perde, de onde ela vem”. Tema este conduzido com maestria pelo grande escritor russo, incluindo surpreendentes reviravoltas. Nesse percurso, alguns pontos chamaram-me à atenção. Vejamos.
Falando do mundo literário, o autor admite que começou “a escrever por vaidade, cobiça e orgulho”. E segue, fazendo uma crítica impiedosa sobre “o modo de ver a vida próprio à casta dos escritores”, chegando a “pôr em dúvida a verdade da fé dos escritores”.
Após refletir longa e acuradamente, o autor constata que “o saber racional, na pessoa dos sábios e cultos, nega o sentido da vida, enquanto a enorme massa de pessoas [...] reconhece esse sentido num saber irracional. E esse saber irracional é a fé”. A resposta intelectual (ciência e filosofia) para a pergunta sobre o sentido da vida consiste em devolver “a mesma pergunta, apenas numa forma mais complicada”. Pioneiro de uma pedagogia do campo, para Tolstói a solução daquela pergunta fundamental se inicia “graças ao meu estranho e instintivo amor ao verdadeiro povo trabalhador, que me obrigou a entendê-lo e a ver que ele não é tão tolo como pensamos”.
Finalmente, o mestre russo sugere que a verdadeira fé, capaz de funcionar como o sentido da vida, “embora única em sua essência, tem de ser infinitamente variada em suas manifestações”. A quem a alcançar, fica o alerta: a manutenção da felicidade de ter encontrado o sentido da vida depende, em parte, de evitar as grandes questões teológicas e acadêmicas.
{n. 4 | agosto | 2018}
{ELEAZAR VENANCIO CARRIAS é poeta e pedagogo, com mestrado em educação pela Universidade de Brasília (UnB).}
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