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Folheto #9 Durante a Semana de 22

Pelas páginas do Correio Paulistano (1854-1949), é possível acompanhar o desenrolar da Semana de Arte Moderna de 1922: antes, durante e depois de sua realização. Quer saber os detalhes?

Leia o Folheto nº9 da Voz da Literatura.



#09 Folheto Semanal 14fev22.
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DURANTE A SEMANA DE 22


O jornal Correio Paulistano (1854-1949) foi um dos primeiros veículos da grande imprensa a apoiar o movimento modernista. De sua redação participava um do grupo dos "novos": o jornalista e escritor Menotti del Picchia (1892-1988). À véspera do evento, no dia 12 de fevereiro de 1922, domingo, Menotti escreve o texto "Futurismo no Municipal", em que vaticina: "(...) A 'Semana de Arte Moderna', no Municipal, vai ser um grande êxito. Tudo está preparado para que essa semana marque uma época definitiva na história do pensamento brasileiro." Durante a "Semana", o Correio Paulistano soltou notas e artigos a respeito do evento. A seguir, acompanhamos parte do que o jornal publicou durante aquela semana de fevereiro de 1922.


***

Segunda-feira. 13 de fevereiro de 1922. Ed. 21054. Primeira página do Correio Paulistano. Coluna “Registro de Arte”: “Realiza-se hoje o primeiro festival da Semana de Arte Moderna”. Há também o detalhamento da programação, com Graça Aranha, Villa-Lobos, Ronald de Carvalho. Ao final da nota, um chamado para exposições: “No saguão do Municipal estarão expostas, desde as 20 e meia horas, esculturas e pinturas futuristas”.


Terça-feira. 14 de fevereiro. Ed. 21055. Segunda página do Correio Paulistano. Coluna “Registro de Arte”: “(…) A Semana de Arte Moderna ontem iniciada - sejam quais forem as opiniões a respeito - é a primeira expressão de um movimento artístico tomado como centro irradiador a terra paulista (…)”


Quarta-feira. 15 de fevereiro de 1922. Ed. 21056. Quarta página do Correio Paulistano. Coluna “Crônica Social”. Anúncio sobre a segunda noite modernista: “Feriu-se, segunda-feira, no teatro Municipal, entre a cultíssima e aristocrática plateia de S. Paulo e o grupo escarlate dos 'futuristas', a primeira batalha da Arte Nova. Não houve mortos nem feridos. Acabou num triunfo.” É assim que Helios (Menotti del Picchia) inicia o texto que anuncia a segunda noite modernista, que contaria com Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Guiomar Novaes. Duas páginas depois, na coluna “Registro de Arte”, em novo destaque à Semana, publica-se parte da carta de Guiomar Novaes discordando de peças satíricas contra Chopin apresentadas na primeira noite. Em seguida, consta a programação da noite de quarta.




Quinta-feira. 16 de fevereiro. Ed. 21057. Segunda página do Correio Paulistano. Coluna “Registro de Arte”. Mais uma vez aparece o subtítulo: “Semana de Arte Moderna”. Destaque para a conferência proferida por Menotti del Picchia, cujo conteúdo promete ser reproduzido na próxima edição do jornal. Mas del Picchia tem ainda, na coluna “Crônica Social”, seu espaço como “Helios”, para ressaltar: “Noitada de glória e de guerra a de ontem, no Municipal. Jamais S. Paulo voltou, com tanto interesse, sua atenção para as coisas da arte, como nesta trabalhada semana”.


Sexta-feira. 17 de fevereiro. Ed. 21058. Segunda página do Correio Paulistano, lá aparece a íntegra da conferência de Menotti del Picchia, sob o título “Arte Moderna”. Em um dos trechos, sublinha: "A nossa estética é de reação. Como tal, é guerreira. O termo futurista, com que erradamente a etiqueteram, aceitamo-lo porque era um cartel de desafio. (...) Não somos, nem nunca fomos 'futuristas'. Por sua vez, na coluna “Registro de Arte”, encontra-se o convite para o terceiro e último dia do “festival da Semana de Arte Moderna”, com destaque para apresentação de Villa-Lobos.





Sábado. 18 de fevereiro. Ed. 21059. Segunda página do Correio Paulistano. Coluna "Registro de Arte". Ao mencionar o encerramento da Semana, com a apresentação de Villa-Lobos, aduz: "Bem mais concorrido que os anteriores, o sarau de ontem teria deixado melhor impressão não fora a atitude de hostilidade assumida sem razão, valha a verdade, no começo e no fim do concerto, por uma parte diminuta da assistência." Na coluna "Crônica Social", escreve Menotti del Picchia no texto "A vitória": "Com o triunfo de ontem, terminou a gloriosa Semana de Arte Moderna. Que ficou dela? De pé – germinando – a grande ideia. Dos vencidos, alguns latidos de cães e cacarejos de galinhas..."



UMA CARTA DE MÁRIO DE ANDRADE


23 de fevereiro de 1922, quinta-feira. Coluna "Crônica Social" do jornal Correio Paulistano, assinada por Helios (Menotti del Picchia). Uma carta de Mário de Andrade dirigida ao colunista.



Escreve-me o Mário Moraes de Andrade, o delicioso artista da “Pauliceia desvairada” e o incorrigível “blagueur” da fronda da “Arte Nova”:


“Carta muito particular. Que tal? Conseguimos enfim o que desejávamos: celebridade. Soube que o x. z. estava um pouco atemorizado com os insultos que temos recebido. Consola-o tu. Realmente, amigo, outro meio não havia de conseguirmos a celebridade. Era só assim: aproveitando a coleta dos araras. Somos todos os pseudofuturistas uns casos teratológicos. Somos burríssimos, idiotas, ignorantíssimos. Compreendes que, com todas estas qualidades, só havia um meio de alcançar a celebridade: lançar uma arte verdadeiramente incompreensível. Fabricar o carnaval de "Semana de Arte Moderna" ... e deixar que os araras falassem.


Caíram como araras. Gritaram. Insultaram-nos. Vaiaram-nos. Mas o público já está acostumado com descomposturas, não leva a sério. O que fica é o nome de um sentimento de simpatia que não se apaga mais da memória do leitor.


Estamos célebres! Enfim! Nossos livros serão comprados! Ganharemos dinheiro! Seremos lidíssimos! Insultadíssimos. Celebérrimos. Teremos os nossos nomes eternizados nos jornais e na História da Arte Brasileira.


Agora calemo-nos, amigo Helios; não há necessidade de escrever. Estamos célebres, amados e detestados.

E tudo isso por quê? Porque os araras caíram na armadilha. Insultaram-nos. Somos bestas, doentes, idiotas, ignaros!


Tudo isso é verdade, amicíssimo. Mas como os jornais o disseram e o público não acredita. Toda gente imagina que somos perfeitíssimos de corpo e alma, inteligentes, honestos e eruditos.


Que araras, amigo Helios, que araras! "



NOTA

* As edições do jornal Correio Paulistano foram consultadas na Hemeroteca Digital Brasileira (Biblioteca Nacional)

 

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