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ENTREVISTA | Aline Bei

Atualizado: 17 de ago. de 2018


A revista {voz da literatura} conversa com a escritora Aline Bei sobre sua produção literária e seu romance O peso do pássaro morto (2017).



Você é formada em Letras e em Artes Cênicas. Como sua escrita tem a ver com essa formação?

muito. hoje em dia não atuo mais, só de dentro dos meus textos. mas minha vivência no teatro, ainda que curta, moldou minha personalidade e por isso acaba influenciando também no meu jeito de trabalhar na página. a faculdade de letras consolidou essa carreira de escritora em mim, mas a minha essência está no teatro.


Sua coluna no “Livre Opinião” serve/serviu como laboratório para sua produção literária?

com certeza. o Livre acaba sendo um lugar de prática e troca semanal com os que me leem. vejo como um ensaio aberto.


Como surgiu o romance O peso do pássaro morto?

o livro nasceu de uma memória da infância, quando um canário que eu tinha em casa morreu na minha mão.

anos depois andando na rua me brotou o título, porque minha mão mudou pra sempre depois da morte do canário, ficou pesada

e estrangeira, então decidi escrever um livro sobre perdas

e o Pássaro nasceu assim.


Você participou de oficinas de criação literária?

Sim, a oficina do Marcelino Freire. fiz a primeira em 2015 e a segunda em 2016, que proporcionou a publicação do meu livro.


De que modo chegou à estética de seu livro de estreia? Por que essa opção de “desmanchar”, ou seja, “retirar a mancha” contínua da prosa tradicional e transformar sua prosa em versos, dando outro acento e outro ritmo à narrativa, como se fosse uma performance no palco?

na verdade esse jeito de dizer na página me acompanha há alguns anos. comecei a escrever assim porque sentia que as minhas palavras precisavam de silêncios

e respirações

que eu não conseguia dar caso eu preenchesse a folha da forma que a prosa costuma fazer.

o Saramago, por exemplo, consegue oferecer silêncios preenchendo tudo

já que os espaços e esperas da literatura Dele

estão na verdade dentro das palavras que ele escolhe e constrói.


Esse estilo narrativo exige sua participação na produção gráfica do romance, sugerindo soluções no projeto visual?

o Pássaro foi escrito como está no livro. a minha editora respeitou meu estilo.


O tema da morte e da perda estão muito presentes no livro, mas ao mesmo tempo uma certa dose de espiritualidade. É isso mesmo?

acredito que sim. quando pensei em escrever o Pássaro, pensei em escrever um livro sobre perdas, sem tréguas, um pouco como no poema da Bishop. One Art

pra mim é uma oração

e talvez a espiritualidade do Pássaro venha da profunda admiração que tenho por aqueles versos.


Como tem sido a divulgação e a recepção do livro em eventos literários, como as feiras literárias que se realizam em várias partes do país?

tenho tido uma experiência muito rica com os leitores e isso é algo novo pra mim. eu publico meus textos curtos pela internet há bastante tempo, mas ter um livro e sair com ele pelo mundo é de uma força que eu não imaginava.


Você se dedica a estudos literários, gosta de ler pesquisas e estudos teóricos de literatura?

teoria não tanto. sou mais intuitiva na hora escrever e pra mim funciona melhor assim. mas leio muita literatura e escuto muita música, vejo bastante filme e procuro estar aberta para vida.


Aproveitando um pouco a divisão por idade dos capítulos de O peso do pássaro morto, quais livros lhe marcaram aos 8, 17, 20, 25, 30? Se não for possível adotar essas idades, escolha cinco livros que marcaram sua trajetória como leitora.

quando criança foi um livro sobre dentes, sobre boca por dentro. eu não me lembro do título, infelizmente. mas aquele livro estava sempre comigo e minha boca muito viva enquanto eu lia.

já na adolescência foram dois. Felicidade Clandestina, da Clarice Lispector e Atos, da Marilena Ansaldi, uma autobiografia da atriz e bailarina brasileira que eu encontrei sem querer em um sebo.

depois, na fase adulta, as peças de Nelson Rodrigues. e os poemas de Fernando Pessoa, especialmente do Álvaro de Campos.


Poderia listar as escritoras brasileiras contemporâneas com as quais tem afinidade literária ou cujos livros lhe marcaram como leitora.?

com Prazer.

Ana Martins Marques. Angélica Freitas. Matilde Campilho. Maria Rezende. Luisa Mussnich. Lucrécia Zappi. Giovana Madalosso. Bruna Beber. Sheyla Smanioto. Andrea Del Fuego. Alê Motta. Carol Rodrigues. Paulliny Gualberto Tort. Adriana Lisboa. Lâmia Britto. Carola Saavedra. Priscila Gontijo. Anna Zêpa. Natasha Felix. Cristina Judar. Patti Smith. Nayara Fernandes, Gisele Mirabai.

Quais são suas leituras teatrais? Poderia indicar algumas para os leitores da {voz da literatura}?

gosto muito de uma peça do Brecht chamada O declínio do egoísta Johanm Fatzer.

também A morte de um caixeiro viajante, do Miller.

Um bonde chamado desejo, do Tennessee Williams.

Identidades, do Felipe Franco Munhoz.

Gota d’água, adaptação de Medéia feita pelo Chico Buarque e pelo Paulo Pontes.

Eles não usam Black-tie, do Gianfrancesco Guarnieri.

Gosto muito das peças do Plínio Marcos também.

Você costuma acompanhar revistas, blogs, canais literários nas redes sociais? Poderia sugerir alguns para os leitores da {voz da literatura}?

o Margens da Jéssica Balbino e o Livre Opinião do Jorge Filholini são dois que eu amo. Também o movimento #leiamulheres


Alguma leitura de 2018 lhe marcou?

Algumas. a mais recente “Lunário” do escritor português Al Berto. comecei a ler agora Dulce Maria Cardoso e já percebo o impacto que ela terá sobre mim.




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