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BRASIS | Curitiba

por Joyce Muzi

“Para todos os efeitos, estamos felizes” . Temos disponíveis, em tempos de redes digitais ultraeficientes, a poesia que circula em verso e prosa, feita para nos fazer felizes. Nessas terras por que circulam a obra de Alice Ruiz, Luci Collin, Paulo Leminski, Helena Kolody, Dalton Trevizan, Cristóvão Tezza, Valêncio Xavier, também circula a poética de Assionara Medeiros de Souza (1969-2018), a potiguar que escolheu Curitiba como casa. Uma delas, porque quando sua obra veio a público, o sul foi pouco. Pesquisadora cuja verve poética se configura em contos, poemas, peça de teatro, que nos enleiam em imagens de rostos, cachimbos, sorvetes, ruas, céus, chuvas, gritos de guerra. Até no México ela chegou. Do sul do Brasil para o mundo.


Como crítica literária competente, seu próprio fazer poético foi posto em xeque com a leveza de quem conta um causo: “De onde vem essa coisa toda que se chama poema?/ Ah, talvez daquela rua/ Um garoto atravessando/ Ele tem um lenço azul no bolso/ E fica parecendo o rabo de um gato ”. Generosa que só, soube olhar para aquelas que leram seu texto e, mais do que inspiradas, mergulharam nessa louca coisa chamada poética de viver. Ou seria viver de poética? Sorte de Julia Raiz. Ou melhor, sorte a nossa. Na apresentação de Diário: A mulher e o cavalo, livro de estreia da doutoranda em Estudos Literários na UFPR, sem nenhuma pretensão instrucional, Assionara Souza nos alerta para as fusões e confusões que encontraremos; não obstante o início que ela considerou tímido, a jovem escritora também habitante da capital paranaense não segue prescrições e recorta, copia, cola – sugere que aceitemos essa fusão de formas, linguagens e sensações para enfim confundir o que é e o que era pra ser: “Esse diário fala de uma mulher e de um cavalo que não são nem a mulher e o cavalo que estão aqui diante dos nossos olhos e nem a mulher e o cavalo que vivem na nossa cabeça... ”


Assim como tantas outras mulheres que escreveram, que escrevem e, principalmente, as que nunca vão se sentir aptas à escrita, a narradora do Diário assume: “É preciso me convencer todos os dias que escrever vale estar acordada” .


Uma mulher sozinha não tece uma manhã. “Mas eu sei que as mulheres estão todas interligadas, nossas mentes formando uma grande rede” . Assionaras, Julias, Bernadetes, Didis, Jandiras, Lidias, Marias, Olgas, Teresas seguem tecendo no sul do mundo apesar das manhãs.


{n. 4 | agosto | 2018}



 

{JOYCE MUZI é professora no Instituto Federal do Paraná (IFPR).}

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