por Laila Correa e Silva, doutoranda em História Social pela Unicamp.

O romance O perdão, de Andradina América de Andrade e Oliveira, veio ao público pela primeira vez como folhetim na revista feminista Escrínio (1898-1910), fundada na cidade de Bagé, pela própria Andradina e depois transferida para Porto Alegre. Em 1910, o romance foi publicado em volume pelas Oficinas Gráficas da Livraria Americana de Porto Alegre. Muito provavelmente a leitora e o leitor desconhecem o enredo deste romance de Andradina: são os efeitos do cânone que se constitui, quase exclusivamente, por homens de letras, principalmente entre os séculos XIX e XX... Trata-se de uma abordagem social e cultural acerca da cidade sulina no ápice da belle époque brasileira. Estela, a personagem principal, apaixona-se pelo sobrinho do marido e, a partir de então, inicia uma luta interna na esperança de suprimir essa paixão avassaladora. A moça acaba cedendo à volúpia e desapontando o que se esperava de uma boa esposa da alta sociedade e mãe de dois filhos. Estela, então, foge com o amante; todavia, o peso do julgamento social era tão grande que a desventurada adúltera comete o suicídio. Percebe-se que não se trata de uma temática surpreendente aos romances escritos na mesma época, a novidade, porém, se mostra pela perspectiva segundo a qual a trama foi narrada. Apesar do título, que remete ao arrependimento, Estela comete o suicídio como efeito de um ato refletido, fruto do cálculo e da consciência lúcida de que a sociedade na qual estava inserida não reservava um lugar para mulheres como ela. Todavia, para o homem que a acompanhava, tão adúltero quanto ela, sempre haveria oportunidade para o perdão.
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