por Marcelo Henrique Marques de Souza,
mestre em Comunicação Social,
professor, escritor e poeta.
Título enganoso, que sugere a ideia de "manual". Alarme falso, já que a listagem dos aspectos técnicos que compõem a produção dos filmes – roteiro, montagem etc – vem acompanhada de uma série de comentários críticos estimulantes, que permitem várias possibilidades filosóficas, políticas e cotidianas para as obras cinematográficas citadas, quando se as pensa em rede complexa com a vida, sem ingenuidades isolacionistas.
Um desses comentários traz a figura do "McGuffin". Técnica hitchcockiana usada para sustentar o suspense das tramas até o final a partir de sutis pistas falsas que alimentam brechas de enigma na narrativa, o McGuffin se materializa como uma espécie de estado de drible praticado pela inteligência, que estende o raciocínio a um nível radical de rigor e porosidade, típico de toda surpresa quando bem praticada. Estado que lembra a estética do conto moderno, como a situa o crítico Ricardo Piglia, em seu Formas Breves, e que pode explicar inclusive o próprio dilema do título do livro aqui resenhado.
O segundo destaque está na questão da "evolução" dos gêneros. Como toda arte, o cinema tende a produzir seus criadores eventuais, que num repente revolucionam a forma de se narrar uma história. Caso do Nosferatu de Murnau (1922) e de tantos outros. No desenvolvimento direto, essas novidades acabam por germinar um intenso processo de deslocamentos, que vai da repetição dos elementos inovadores iniciais até os metafilmes e hibridismos, passando pelos estilismos clássicos; fórmulas, clichês e produção crítica, numa lógica de variação que parece ser a dinâmica pulsante de todas as práticas artísticas. Altamente recomendável.
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