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Folheto #7 Com açúcar, com afeto

140 anos de Virginia Woolf. O que sabemos sobre Woolf e suas obras? "Com açúcar, com afeto", a canção que Chico Buarque não cantará mais. Por que a crítica feminista motivou a decisão de Chico? As redes sociais discutiram e rediscutiram a decisão do compositor... Está no ar o Folheto nº7 da Voz da Literatura.



#07 Folheto Semanal 29jan22
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VIRGINIA WOOLF: 140 ANOS


Mrs. Dalloway (1925), To the Lighthouse(1927) e Orlando: the biography (1928) são três dos grandes trabalhos da romancista, ensaísta e editora britânica Virginia Woolf. No dia 25 de janeiro, as redes sociais foram inundadas de homenagens a essa escritora fundamental, em razão dos 140 anos de seu nascimento.


Uma das primeiras traduções brasileiras de Virginia Woolf é de Mário Quintana, que em 1946 verteu Mrs. Dalloway.


A partir de 2012, quando as obras de Woolf caíram em domínio público, apareceram várias traduções brasileiras, por diferentes editoras e por tradutores como Denise Bottman, Tomaz Tadeu, Claudio Alves Marcondes.


Em 2021, uma novidade sobre Woolf apareceu no cenário brasileiro. São seus diários. A tradutora Ana Carolina Mesquita trouxe a lume Diário I: 1915-1918 (Ed. Nós, 2021). O projeto inclui ainda mais quatro volumes.


Uma dimensão da produção da autora de Mrs. Dalloway que lança luz sobre seu fazer literário é a de ensaísta. É comum ouvir e ler por aí que a literatura de Woolf caracteriza-se pelo uso do monólogo interior e o fluxo de consciência, como se tal bordão resumisse tudo o que se precisa saber sobre ela. Uma percepção bem reducionista da magnitude de sua obra. É por isso indispensável ler seus ensaios para perceber quais problemas preocupavam a escritora.


Nessa linha, o volume O valor do riso e outros ensaios, em tradução de Leonardo Fróes (CosacNaify, 2015), ajuda a compreender como uma romancista do quilate de Woolf é muito mais que técnica e forma. Leia-se, apenas como amostra, um trecho do ensaio “Mulheres e ficção” [1929]: “Mesmo a investigação mais superficial sobre a escrita das mulheres logo suscita uma porção de perguntas. Por que, por exemplo, não houve uma produção contínua de escrita feita por mulheres antes do século XVIII?”


O ensaísmo e a literatura de Woolf são provocativos e formulam uma infinidade de perguntas. A consciência da função social da escrita literária, com ela, é patente. Há um extravasamento da literatura para a vida, e vice-versa. Não é uma literatura meramente contemplativa, ou de puro entretenimento. Está em outro patamar; daí sua aclamação por tantos leitores. É uma escritora essencial, dessas que devem ser festejadas pela leitura e não apenas por lembrança de seu aniversário.


Outra via de sensibilização de leitores para sua literatura é o cinema. Nas telas, as obras de Virginia Woolf aparecem em “Orlando” (1992), da inglesa Sally Potter, e “Sra. Dalloway” (1997), da holandesa Marleen Gorris. E a própria Woolf se torna personagem em “As horas” (2002), do livro homônimo de Michael Cunningham. Por sua interpretação em “As horas”, como Woolf, a atriz Nicole Kidman recebeu uma estatueta do Oscar. Mais recentemente, outro filme: “Vita e Virgínia” (2018), de Chanya Button.



COM AÇÚCAR, COM AFETO














No documentário O canto livre de Nara Leão (Globoplay, 2021), Chico Buarque conta que compôs Com açúcar, com afeto (1967) por encomenda para Nara. Contudo, segundo Chico, a canção vem sofrendo crítica das feministas e, por esse motivo, não mais a cantaria. “Eu gostei de fazer (a canção). A gente não tinha esse problema (a crítica das feministas). É justo que haja, as feministas têm razão, vou sempre dar razão às feministas, mas elas precisam compreender que naquela época não existia, não passava pela cabeça da gente que isso era uma opressão, que a mulher não precisa ser tratada assim. Elas têm razão. Eu não vou cantar ‘Com açúcar e com afeto’ mais e, se a Nara estivesse aqui, ela não cantaria, certamente”, comenta o compositor na série documental.


O assunto deu o que falar no tribunal do júri das redes sociais. Chico foi louvado, condenado, elogiado, questionado, ignorado…


Há quem defenda a liberdade de Chico. A decisão dele é soberana e não cabe recurso a qualquer instância. Há quem alegue que faltou da parte das “feministas” uma interpretação da letra da canção: distinguir o eu-lírico e o compositor. Há quem prefira dizer que temos problemas maiores a discutir e fingem pouco se importar com o caso. Há quem já comece a encontrar outros “machismos” e problemas mil em diversas canções de Chico que não cabem mais em nossos tempos: Geni e Zepelim, Feijoada Completa, Mulheres de Atenas, Apesar de você, Construção, Meu Caro Amigo, O que será (à flor da terra), Cotidiano, Fado Tropical, Sinhá...


 

Enfim, ele se embrenhou tanto na leitura que passava as noites lendo até clarear e os dias até escurecer; e assim, por dormir pouco e ler muito, secou-lhe o cérebro de maneira que veio a perder o juízo. Sua imaginação se encheu de tudo aquilo que lia nos livros, tanto de encantamentos como de duelos, batalhas, desafios, feridas, galanteios, amores, tempestades e disparates impossíveis; e se assentou de tal modo em sua mente que todo aquele amontoado de invenções fantasiosas parecia verdadeiro: para ele não havia outra história mais certa no mundo.


Miguel de Cervantes. Dom Quixote de la mancha. Trad. Ernani Ssó. Ed. Penguin.

 

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