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A poesia de T. S. Eliot



Caetano W. Galindo é professor na área de Linguística da Universidade Federal do Paraná. Traduziu, entre outras obras, Ulisses, de James Joyce. Por essa tradução, recebeu o Prêmio Jabuti de 2012. Em novembro, a Companhia das Letras lançou sua tradução dos poemas de T. S. Eliot , em edição bilíngue. É sobre este recente lançamento que Galindo conversou com a revista

{voz da literatura}.




Quanto tempo demorou para ficar pronta a tradução da poesia completa de T.S. Eliot?

Aquelas datas no fim do “Posfácio” representam basicamente o tempo transcorrido entre eu receber a proposta e entregar a tradução. Cerca de 14 meses, entre março de 17 e maio de 18. O que aquelas datas não contam é o longo processo que ainda ocorreu depois da entrega do texto. Houve ao menos sete pessoas diferentes lendo o livro, e eu acompanhei cada uma dessas leituras, respondendo perguntas, tirando dúvidas, esclarecendo propostas e “autorizando” alterações. O livro sofreu alterações literalmente até o último momento possível, já em outubro de 2018.



T. S. ELIOT POEMAS | Trad. Caetano W. Galindo | Cia. das Letras | 2018 | Edição Bilíngue | 432 p.

Como foi o processo de tradução? Outras traduções já existentes ajudaram nesse trabalho? Do que se cerca o tradutor para verter para o português um poeta com lírica pouco convencional, que pratica versos livres mas dentro de uma métrica, ritmo e musicalidade particulares, além de toda a gama de citações diretas ou indiretas de Eliot a outras obras literárias, filosóficas, religiosas, bem como a elementos de seu tempo?

Houve muita pesquisa sobre Eliot e sua obra. Mas não procurei me servir de outras traduções. Ou, melhor dizendo, procurei não me servir de outras traduções. A ideia era quase evitar ‘contágio’ mesmo. Eu gosto desse contato direto com o original, sem a sombra de soluções boas já escolhidas por outros.

Quanto àquilo de que se serve o tradutor, ora... é o de sempre. Eu vivo dizendo aos meus alunos que a tradução literária é, pra mim, a justificação do meu amor por todo tipo de trívia, informação despropositada etc... é o único lugar (além da escrita de literatura) onde virtualmente tudo que você um dia aprendeu pode vir a calhar. E é desse repertório que você se serve. De leitura de poesia brasileira, inglesa, americana, portuguesa. Das palestras que assistiu e dos livros que leu sobre métrica e modernismo. E, claro, da imensa fortuna crítica construída diretamente sobre a obra de Eliot. A edição crítica de Ricks e McCue, por exemplo, foi definitiva. Sem ela o livro simplesmente não poderia ser o que é.


T.S. Eliot é uma figura de relevo da poesia moderna da primeira metade do século 20, não somente por ter sido agradecido pelo Nobel em 1948, mas pela inovação estética de seu fazer poético. Qual a relação de Eliot com a história da literatura brasileira e o nosso movimento modernista?

Eu não sei responder. O nosso modernismo às vezes pareceia curiosamente “fechado”. Não sei dizer biograficamente qual foi o impacto direto, se houve, da produção de Eliot no Brasil. Tenho certeza de que ele terá sido lido. Mas não sei avaliar de modo crítico.

Há, no entanto, certa familiaridade entre a produção dele e a de Drummond nos anos 30...?



A revista {voz da literatura} tem reservado espaço para a literatura infanto-juvenil a cada edição. Então não poderia deixar de mencionar um dos trabalhos mais populares de T. S. Eliot, que consta também de sua tradução: a série de poemas de O livro dos gatos sensatos do Velho Gambá (1939). Esses poemas compostos para o público infantil foram adaptados e encenados, com sucesso, em musical da Broadway. Qual a relação de Tom Eliot com a literatura para crianças?

Ele chega mesmo a mencionar que gostaria de escrever romances policiais (como seu irmão), para ganhar dinheiro! Mas diz que não se vê capaz, e que a única forma de ampliar sua renda seria publicar um livro infantil.

Mas esse aparente cinismo esconde o fato de que a poesia infantil de Eliot faz parte de uma veia pouco conhecida de sua obra, presente em certos poemas de juventude e em muita, mas muita poesia de circunstância não reunida em livro. Eliot o “pândego”, o poeta divertido, trocadilhesco, lúdico.

Nesse livro, com poemas dedicados originalmente a crianças que ele conhecia, essa veia tem uma forma de se manifestar. E até por isso torna ainda mais preciosos os poemas.


De todos os livros de poemas de T.S. Eliot, é possível recomendar algum para o público brasileiro, aquele que você considere o mais emblemático de Eliot? Se não for possível, qual poema você escolheria para recomendar aos leitores da revista?

O grande livro dele, e ele mesmo achava isso, é a reunião dos Quatro Quartetos, a última grande obra lírica que ele publica. São obras densas, complexas, profundas, capazes de alterar as tuas noções de poesia e, também, a tua vida.

Mas, se for pra recomendar um único poema, eu iria pra outra ponta da vida e da obra. Vale ler (e reler algumas vezes) A canção de amor de J. Alfred Prufrock, incrível primeiro poema do primeiro livro do autor, onde tanto de suas preocupações temáticas e formais já aparece com clareza.


{n. 9 | janeiro | 2019}





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